A má qualidade do ar aumenta risco de infartos e AVCs no inverno. Nesse período, pessoas acima de 65 anos são mais suscetíveis a contrair doenças que podem gerar complicações. E mais, um estudo busca semelhança no DNA de pacientes graves de febre amarela
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Com a chegada do inverno, a exposição a baixas temperaturas pode representar riscos inclusive a indivíduos saudáveis. Se não estiverem bem agasalhados, há chances de o organismo entrar em hipotermia, condição em que não se consegue manter o próprio corpo aquecido. Para quem tem aterosclerose ou hipertensão, o frio intenso aumenta ainda mais a probabilidade de ocorrerem eventos cardiovasculares, como infarto ou derrame, conhecido como AVC (Acidente Vascular Cerebral). Estima-se em mais de 50% o aumento do número de internações e de mortes por infarto agudo do miocárdio, durante o inverno, em comparação com o verão, sendo que pessoas com mais de 65 anos são as mais afetadas.
Luiz Antônio Machado César, diretor da Unidade de Coronariopatias Crônicas do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, contou ao Jornal da USP no Ar os motivos pelos quais os riscos são maiores para idosos.
“Nesse período, ocorre a mudança do perfil das substâncias que são produzidas no tecido respiratório pela traqueia e pelos brônquios pulmonares, que reduzem nossa capacidade de combater infecções. Com isso, é no inverno que ocorrem mais casos de resfriados, viroses e gripe, que é o maior problema: o vírus influenza desencadeia um processo de inflamação do organismo como reação à infecção e, se a pessoa tiver placas de aterosclerose, essa inflamação pode fazer com que essas placas se rompam e culminem num infarto. Além disso, com o frio, o fígado passa a produzir substâncias do sangue que aumentam os riscos de coagulação”, conta.
E você acompanha também, neste episódio, um estudo que busca semelhança no DNA de pacientes graves de febre amarela. Recorrente entre os meses de janeiro e março, a febre amarela é uma das principais preocupações para o brasileiro no verão. Se focarmos no Estado de São Paulo, a ocorrência de epidemia durante esse período já está se tornando tradição e os prognósticos são graves.
Durante 2018, a região das cidades da Mairiporã e Atibaia foi o principal foco. A professora Anna Sara Levin, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), contou ao Jornal da USP no Ar que, a cada três pessoas com casos graves que eram encaminhadas ao Hospital das Clínicas, duas morriam. No início de 2019, a doença retornou em seu ciclo anual, atingindo sobretudo a região do Vale do Ribeira.
Para tentar descobrir previamente quão grave será o quadro do paciente de febre amarela e a intensidade de seus sintomas, pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP estão desenvolvendo um estudo com moradores da cidade de Eldorado. O objetivo é determinar um biomarcador genético que indicaria essa predisposição, o que possibilitaria um melhor encaminhamento dos casos mais preocupantes.
“Estamos procurando no DNA das pessoas que faleceram por causa da doença alguma característica comum. Depois, iremos comparar se esses biomarcadores aparecem na população que foi afetada agora no começo do ano nas comunidades rurais do Vale do Ribeira, tentando associar a gravidade da manifestação com a variação genética”, explica Anna.
De toda forma, a vacina segue sendo a única solução. Ela pontua que os moradores de Eldorado não foram vacinados de maneira eficaz.
Por Roxane Ré
Jornal da USP